Não verás fama alguma

Bia Bonduki
3 min readJan 4, 2021

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Desde o momento em que botei os proverbiais pés nesta terra meu destino foi escrito da seguinte forma: não ganharás concursos nem jogos de azar e também jamais terá seu nome impulsionado à fama.

Comecei essa teoria em outro texto, e agora gostaria de desenvolvê-la.

Uma vez eu acampei com uma menina que era a básica das básicas, tão básica que a apelidamos de Camila 3, porque tinha mais duas Camilas no grupo e ela não se destacava por nada. Tal menina me apelidou de Maria Aparecida, e criou aí um burburinho sobre eu gostar de aparecer. Só que, de todas as minhas características, "gostar de aparecer" sequer entra em discussão. Não é que eu seja avessa aos holofotes, eles só insistem em não me acompanhar.

Na primeira peça da escola, fui escolhida para um papel por ler muito bem. Meu personagem? O da vovó. Tudo bem, a maioria das falas era minha, mas eu queria mesmo era ser a neta, Lucilinha, interpretada por minha nêmesis Bárbara. Foi humilhante atuar envolta num xale, com talco no cabelo e calçando as pantufas do meu pai, enquanto Lucilinha se sentava no meu colo, linda e loira, na cadeira de balanço. Mais tarde, me envolvi novamente com esse lance de teatro. Fui um dos Munchkins numa versão de O Mágico de Oz. Bleh.

Quando eu era adolescente, meu sonho maior era ser reconhecida pelo colunista social da cidade. Lembro de acordar no sábado e correr pra pegar o jornal e ver se, por algum truque de magia, teria sido citada ou mesmo fotografada de relance por ele, em algum evento. Consegui no máximo ter uma nesga do meu camisão estrelado do Pateta aparecendo na foto de uma Feira Esotérica que aconteceu no clube. Anos mais tarde, quando voltei de uma viagem de intercâmbio, meu sonho se realizaria. Estava lá na coluna Basfonds e Babados a nota:

"A ninfeta Bia Bonduki retorna de temporada de intercâmbio trazendo saudade na mala"

A sensação de glória durou minutos. Descobri que meu pai tinha pedido pro agitador dar uma notinha sobre o meu retorno. Não foi orgânico. Mais tarde, já na faculdade, saí numa coluna social do Estadão. Meu nome foi grafado como Beatriza.

Eu posso provar.

Já escrevi pra muita gente que admirava, no intuito de elogiar. Raras foram as vezes que recebi resposta. Mas o que doeu mesmo foi a vez que eu pautei um podcast americano, e eles contaram a história inteira sem nem me mandar um salve que fosse. Ouvi o episódio inteiro fantasiando como pronunciariam meu nome, se fariam alguma piada com o fato do meu sobrenome soar como "bom cocô" em inglês, seria a glória, oh, Archibald! Não foi dessa vez.

Outro dia apareceu uma jornalista querendo me entrevistar pruma pauta sobre o meu trabalho para um conhecido portal brasileiro. Nossa, eu fiquei doida. Mandei release, foto, compartilhei receitas (coisa que não faço por nada). Meses de apreensão pra finalmente a matéria sair… usando somente minhas receitas, sem crédito. Algumas foram até alteradas de forma que eu não quisesse associar meu nome àquele grude. Mais uma decepção.

Tudo isso me remete a uma memória do meu avô Mario, sarrista inveterado, quando ele veio me avisar que havia passado no vestibular:

— Bia, seu nome tá no jornal! E não é na coluna policial!

Pois é, Nonno, nem pra isso eu tenho talento.

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