Como se forma um trauma?
Pelo vazio de uma contrariedade, na nonchalance que segue, na noite em claro, no aperto no estômago e na vontade de falar, falar, falar até se esvaziar. Pela coleta de milhares de opiniões parecidas, fundamentadas em uma única forma de registro. Pelas figuras que residem dentro de mim e falam, falam, falam até me convencer. Pela angústia que cresce quanto mais se percebe a gravidade dos eventos.
Quando eu tinha 11 anos, meu pai me falou que eu me abria como um paraquedas. Como uma couve-flor.
No momento em que as coisas caem como uma veste de ferro envolvendo meu corpo e percebo a intensidade do que me acomete. No choro dolorido que sai, um misto de autopiedade e percepção de até onde se pode levar por uma migalha. Na sensação de abandono perene e atávico que diz “não há muito o que se fazer”. No desejo imediato de mudança, de rompimento com o modus operandi. No dobrar do corpo e expurgar até não machucar mais.