Era um tesão enorme

Eu costumava me referir a você como "a última pessoa que partiu meu coração" com bastante credulidade, porque foi como eu me senti quando as coisas terminaram sem nem começar: de coração partido. Como se você fosse a última pessoa que tivesse mexido de verdade comigo. Eu tinha certeza disso.
Certeza a ponto de voltar atrás, uma única vez, e meu coração partir novamente. Eu quis me dar essa segunda tentativa pra ver se era a minha conclusão, de que não ia acontecer mesmo, porque estávamos em situações diferentes na vida — muito embora eu não veja situações como obstáculos, sou partidária do "quem quer, faz acontecer". Realmente, não rolou. No dia seguinte, acordei e comi M&M's na cama de café da manhã e só fui me sentir melhor quando dirigi 27km até uma feira de antiguidades e paguei R$ 75,85 num pote de vidro com tampa enferrujada. Ainda estava sob efeito da decepção.
Pra você eu escrevi um texto que nunca publiquei, uma ode ao seu pênis, ao qual nunca fui apresentada. Era uma dessas certezas que eu tinha, de que seu pau merecia uma ode e, caso viéssemos a nos tornar amigos, ela se comprovaria. Também fiz um poema sobre como teria sido se a gente tivesse se rendido. Talvez um dia eu o publique, porque ficou melhor do que se tivéssemos vivido essa redenção.
Eu até equiparei a nossa não-história a uma história verdadeira que vivi, como se a sua fosse uma versão compacta ou um ensaio, mesmo tendo não-acontecido anos mais tarde. Temos que admitir que a retomada dela foi curiosa, mas foi só isso.
Aí, numa sexta-feira, eu abri o nosso histórico de conversas, em nome da pesquisa literária. Deitei-me na cama e reli tudo com cuidado, e me senti como da vez que pechinchei o preço de uma flor-de-lótus sem saber que estava levando para casa um aguapé. (É verdade, é um golpe muito famoso no bairro da Liberdade.) Engambelada por completo, aquilo só podia ter sido um tesão mal-canalizado que durou meses. Deu até um mal-estar, fiquei zonza e não consegui dormir direito. Como pode, né?