Eu Penso Muito Nisso — Ginástica Aeróbica
Esta é uma cópia descarada de uma das minhas seções favoritas do The Cut, I Think About This a Lot.
Imagina chegar pra uma pessoa da geração Alpha e falar que, no fim da década de 1980, começo da de 1990, a onda era se exercitar trajando collants brilhantes de lycra, tênis brancos e meias bufantes imaculadas, jogando as pernas pra cima num ângulo maior que 90º? Às vezes eu faço esse exercício de olhar as coisas com olhos mais jovens e fico maravilhada/horrorizada.
Outro dia eu tava com insônia, e algo me disse para pegar o celular e assistir a vídeos de campeonatos de aeróbica. Não que fosse me ajudar a dormir, mas para pensar mais a respeito. Então eu abri o vídeo abaixo e deixei as memórias se aproximarem.
Curiosidade: o apresentador do evento é pai daquele rapaz que cantava Blurred Lines em 2013.
Eu lembro da época que a ginástica aeróbica chegou na minha cidade: havia uma dupla, composta por um monitor de hotel e uma professora de educação física, que se apresentou na festa de encerramento da academia de dança do clube. Eles escolheram Rofo's Theme (Radio Edit), da dupla belga Rofo, para mostrar seus movimentos: muita virada brusca de cabeça, chute lateral, sorriso rasgado, palmas que trabalham toda a musculatura dos braços. Em alguns momentos, um tipo de frevo menos malemolente entrava na coreografia. As caras que eles faziam pareciam dizer "venha, é fácil", como um líder de seita faria para te convencer. Eu fiquei acompanhando aquilo estupefata de admiração e também um pouco de medo. Era tudo muito intenso para mim.
Tenho a impressão de que na minha época a gente não tinha muito acesso à cultura dos Estados Unidos — hoje em dia qualquer garota de 14 anos sabe fazer um vocal fry com maestria. A gente resumia os States como um bando de mulher loira de cabelo armado a custo de muito laquê, peitão e uma retrobunda pra acompanhar — fosse essa a mulher que aparece na Sessão da Tarde, no Cine Privê ou no vídeo de ginástica — e uns grandalhões avermelhados de queixo proeminente. Claro, na minha época a globalização ainda começava a dar seus passos, mas olhando hoje pra esses vídeos de aeróbica, eu tenho certeza que eles eram exatamente o que a gente pensava, só que de maneira menos caricata. E essa estética marcou, para mim, a imagem do estadunidense. We push ourselves to the maximum. Quando fui fazer intercâmbio (porque eu sou a pessoa que fez e usa o fato de ter feito intercâmbio em seus textos), vi muito dessa motivação na escola.
Durante uma temporada, ousei praticar salto com vara como atividade extra-curricular. Meus técnicos eram um casal de linhas de expressão muito marcadas no rosto, aquelas de quem sorri em exagero, grita por qualquer coisa, bate no peito feito um orangotango pra comemorar, corre 18km de manhã antes de tomar café. Num dia de treino, minha vara parou lá em cima e eu escorreguei feito uma dançarina de pole, batendo o calcanhar no chão e sentindo replicar no meu joelho. Travada de dor, fiquei um tempo esperando meu joelho voltar à vida, massageando a perna. Isso bastou para fazer de mim uma PERDEDORA.
— Levanta! Levanta e continua o treino, sem choradeira! — gritava o técnico
— Meu joelho ele…
— Aqui nós não temos tempo para perdedores, vá sentar na arquibancada!
Se você jogar aerobics no YouTube, vai achar muitos vídeos atuais que ensinam exercícios aeróbicos, mas nada com a graça e o dinamismo daquela época. Talvez porque os atletas de outrora hoje ostentem rupturas e desgastes nas juntas, resultados dessa filosofia WINNERS que não perdoa nem um choquinho de cotovelo.