Arranque #2

Escrito em Nov./2013. Continuação de Arranque #1

Bia Bonduki
2 min readMay 31, 2021

Todas as analogias de amor me constrangem. Falar de amor, na verdade, é algo que me paralisa se for pra ter que falar, assim, em público. Acho tudo uma bosta, a não ser que seja brutalmente honesto. E a gente sempre colore o assunto “amor” com as cores mais fortes da caixinha. Eu usaria o verde/azul-piscina e aquele roxo Faber-Castell cujo grafite escapava da carcaça. E o resultado seria uma bosta, porque falar de amor sempre dá uma bosta de resultado.

Isto posto…

Eu senti que meu coração parecia estar com o fio desencapado, dando curto. Se numa hora ele não acendia na sua presença, agora ele acendeu. Se ele falhou quando eu queria me declarar — talvez defesa — agora ele piscou até demais quando, na verdade, nem era pra ser tudo isso. Hoje eu tenho vontade de ligar e te falar que eu não tô pra jogo. Que você poderia estar no sofá me comendo e comendo um delivery, caído com o cotovelo na minha coxa enquanto assistíamos um documentário meio caído. Olhando sério e meio indignado pra tevê, e soltando uma gargalhada alta com a minha observação boba sobre o que está passando. E levantando pela ducentésima vez para fazer xixi porque eu sei que você fica com bexiga nervosa.

Mas antes que eu me prolongue, eu nunca te falei nada. Nem quando você me dava dor de barriga, nem quando eu te dei por dar, nem nos últimos dias. Talvez porque eu nunca tenha encontrado as palavras certas, justo eu, que vivo disso. Tem horas que eu chamo de paixão, tem horas que eu chamo de possessividade, tem horas que eu desmereço a situação por completo, como se te contasse uma piada ou um caso que aconteceu com uma prima distante. “Aquela tonta, imagina? Era doida no cara e nunca fez nada”, eu diria.

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Bia Bonduki
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