Eu Penso Muito Nisso — Tom Hooker Looking for love
Esta é uma cópia descarada de uma das minhas seções favoritas do The Cut, I Think About This a Lot.
Numa noite do fim dos anos 1980, eu estava tentando dormir, já acometida pela ruminação mental que me acompanha desde a mais tenra idade, quando comecei a pensar na canção "Looking for love", de Tom Hooker. É claro que, à época, eu ainda desconhecia nome e autor da música, mas a escutava repetidamente no rádio, e tinha bastante apreço pela composição.
Nessa noite, imaginei formar uma banda com o intuito de reproduzir essa música — mas antes preciso explicar um negócio: na infância, meu sonho sempre foi me apresentar. Fosse cantando, dançando, liderando um grupo infantil ou sendo anfitriã de um programa matinal, eu queria brilhar e aparecer. Daí você já pode concluir o que me faltou ou teve em excesso na minha criação, eu não ligo, só sei que era assim. Portanto, nessa banda que eu mentalizei, eu seria a líder. Minhas amiguinhas mais próximas seriam dançarinas, o irmão da amiguinha seria o cantor, o crush da escola o guitarrista, o amigo do irmão da amiguinha o baterista, as amiguinhas distantes, vocais de apoio, e assim ia. Quando percebi, já tinha empregado a escola inteira nessa apresentação, que, pensando em retrospecto, se assemelhava muito à cena do show em "The Lost Boys", embora eu não me lembre de ter visto esse filme antes de adulta.
Anos mais tarde, reencontrei essa música numa playlist de clipes dos anos 80. O filme, abaixo, me surpreendeu: na minha imaginação, sem conhecer o nome nem a letra da música, ela era mais MÍSTICA, tinha uma vibe mais JORNADAS e MISTÉRIOS. Não era sobre um homem no cais do porto procurando uma mulher para pagar por sexo e encontrar amor em troca. Ainda assim, elas se combinavam.
O clipe em si é muito bom: tem corpo de baile, tem troca de figurino, tem representação, tem personagens com histórias, ainda que breves. E, como diz o letreiro no começo do vídeo, tem participações especiais de gente que você talvez não conheça, como a da cantora Sinitta, que inclusive foi namorada de Brad Pitt, e do dançarino Floyd Pearce, do grupo de dança inglês Hot Gossip. Aliás, só as informações dessa dupla já dava um bom post do Wakabara, vou deixar a sugestão aqui.
O próprio Tom Hooker é a epítome do cantor de ítalo disco da época: cabelinho puxado no gel, um pega-rapaz displicente na testa, paletó e olhar de cachorro pidão. Olhando assim nem dá pra dizer que o cara é autor/co-autor de clássicos da época como Boom Boom, Let's Go Back To My Room, do Paul Lekakis, e USSR, do Eddy Huntington, além de ter sido a voz por trás do projeto Den Harrow. Novamente, mais informações, só se o Jorge fizer o post.
O que me faz pensar muito nesse clipe é exatamente a forma que minha imaginação criou sua performance, e como a execução original me deixou igualmente satisfeita. Passei tantos anos com essa minha versão guardada na cabeça, um devaneio de uma noite após passar horas correndo de collant no clube, recém-saída da aula de jazz, onde nos era permitido criar coreografias, que ver o clipe me fez pensar que cheguei muito perto, mesmo sem saber do que a música se tratava. As cores, talvez? O clima que os tecladinhos criam? Tudo é possível, e guardo essa farofa numa playlist chamada Bichas Misteriosas, pois é ali que ela eternamente irá se encaixar.
